Gilmar Peres
- Sérgio, não da mais.
- O que eu fiz agora?
- Agora? Não foi a primeira vez. Eu cansei. Chega. Você acabou com os meus sonhos.
- Lúcia, você está exagerando novamente.
- Exagerando? Você sempre faz isso. Uma hora cansa. Você não pensou em mim, muito menos nos seus filhos.
- Lá vem você de novo. Sou sempre o errado da história.
- Vai te fazer de vítima? Vai tentar esconder?
- Lúcia, que mi, mi, mi?! Você tá exagerando mais uma vez. Aliás, como sempre.
- Como sempre? Como Sempre? Ora, você esquece as coisas facilmente. Quer que eu te lembre?
- Nós já tínhamos combinado de não revivermos o passado. Se for assim, também tenho lembranças.
- Ah, é? Então fala. Quero ouvir.
- Chega Lúcia. Eu não aguento mais.
- Sérgio, eu até admito que você não tenha pensado em mim. Que tenha agido por instinto. Sei lá. Mas e a família? E seus filhos? Isso não se faz.
- Lúcia, pare de chorar. As crianças vão se assustar.
- Agora você pensa nelas?
- Mas você está exagerando.
- Eu estou grávida de novo, Sérgio. Grávida, lembra? Você sabia disso e mesmo assim não conseguiu se controlar. Foi mais forte do que você. Foi a natureza. Ora, ora. Vai arranjar desculpas no raio que o parta.
- Não é pra tanto. Eu vou pegar minhas coisas. Pode dizer onde está a chave do carro.
- Isso, pega logo. Pode ir. Vá lá.
- Ok, por mais que eu faça, não vai adiantar.
- Não vai mesmo.
- Adiantando ou não, eu vou tentar repor os sonhos que comi. Acho que ainda encontro algo aberto.
- Agora? Duvido. Deixa pra amanhã. O meu é com creme, não se esqueça disso, pelo menos.
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